Artigo

Acontecimentos

Publicação original: 2007por Joel Rufino dos Santos

Setembro de 1251. Perto de Florença, na primeira vila de quem bordeja o Arno pela margem esquerda, vivia Damaso Scarpelli. Era ferreiro. Tinha dois filhos. O menor, suspeitava que não era seu. Assim, não lhe deu qualquer nome. Quis entregá-lo ao convento, esqueceu-o numa noite de inverno na beira do rio (na altura em que está hoje a Ponte Vecchia), pagou ao bobo da vila para levá-lo ao campo e voltar sozinho. E nada.

Quando o menino fez 13 anos, Damaso desistiu de acabar com ele. Por duas razões: o sem-nome, exímio na fole, aprendera quase tudo da arte do ferro; e, sofrendo de mal das juntas, entrevado, não consguia levantar a palmatória.

Certa manhã de setembro, Damaso berrou pelo sem-nome e não foi atendido. Se arrastou até a casinha, sob um olmo em que ele dormia. Achou-o vertendo chumbo nuns moldes de madeira. Soldadinhos. Viu sobre uma bancada o exécito inteiro do duque de Napoli, com talamares vermelhos, bonés azuis, botinas marrons. Contra ele, um exécito francês inteirinho, com padres e mensageiros.

O sem-nome, inventor dos soldadinhos de chumbo, acabou na corte de Luis IX (1214-1270). Consta que assistiu o pai infeliz no leito de morte. Mandava para Damaso queijo do Reno, salsichas de Rotterdam e almandras de Portugal (confeccionadas com a mais pura lã da Covilhã).

Maio de 1927. Quando Mário de andrade chegou a Fortaleza, se lembrou de uma história. Seu "tio" Pio, de Araraquara, estava brincando com um escravinho. Não se sabe o que o menino fez, o tio adotivo de Mário ralhou: Ô negrinho intrometido, eu te bato, hein!

O escravinho: Bata que eu corro!

Pio: Eu corro atrás!

O escravinho: Eu escapulo por baixo de mecê!

Pio: Eu me agacho!

O escravinho: Eu pegava numa pedra e tocava uma pedrada em mecê!

Pio: Eu desviava!

O escravinho: Eu pegava num relho, dava uma relhada em mecê!

Pio: Que-de relho!

O escravinho: Eu dava uma paulada! 

Pio: Não tem pau! 

O escravinho: Nem num sei! Pegava no que fosse e dava uma quefossada em mecê!

Agosto de 1961. Jânio Quadros, durante os sete meses em que foi presidente do Brasil, mandou 1.534 bilhetes a ministros e auxiliares. Dia 25 de agosto, mandou o seguinte aos ministros militares:

Nesta data e por este instrumento, deixando com o ministro da Justiça as razões do meu ato, renuncio ao mandato de presidente da República!

Foi o último.

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